25 de jul. de 2013

Energia velha, mentalidade velha

Com os bastidores da política ocupando todo o noticiário, duas notícias importantes do setor energético passaram desapercebidas nas últimas semanas. A primeira é o prejuízo estimado da Petrobras com a importação de combustíveis de janeiro a maio: R$ 2,2 bilhões. No ano, as exportações da estatal caíram 55% e as importações cresceram 26%.

A segunda, o desligamento de 34 usinas térmicas a diesel e óleo combustível, caras e poluentes, acionadas em caráter emergencial ao custo mensal de R$ 1,4 bilhão. Desde o início do ano, o prejuízo com o acionamento das térmicas, que vai sobrar para os consumidores, atinge nada menos que R$ 9 bilhões.

Além da falta de planejamento e da má gestão, as informações mostram a defasagem da agenda energética brasileira -- ainda às voltas com a energia velha, cara e suja. Mesmo com a economia parada, o Brasil, éden das fontes renováveis, importou 77% mais gás natural e 11% em derivados de petróleo no primeiro semestre.

Apesar da queda nos investimentos globais em energias renováveis em 2012 por conta do aperto fiscal internacional, persiste a meta da ONU de dobrar a participação das alternativas limpas na matriz mundial até 2030. Segundo a ONU, o Brasil é um dos 20 países de "alto impacto" que deveriam liderar este processo.

A matriz energética brasileira, graças às hidrelétricas, ainda é uma das mais limpas do mundo (com 45% de participação das fontes renováveis). Mesmo que as fontes fósseis praticamente monopolizem a agenda energética do governo, o Brasil tem vocação para energias renováveis. O desafio é tirar este potencial do papel.

Semana passada o governo de São Paulo apresentou o Plano Paulista de Energia, trabalho de 70 entidades públicas e privadas, cuja meta é expandir as energias limpas na matriz estadual dos atuais 55% para 69% até 2020. Como? Gerando sinergias a partir da minuciosa integração entre planejamento energético e logístico.

Além de priorizar investimentos em renováveis, sobretudo eólica, solar e derivados da cana, o plano impõe uma agressiva política de eficiência energética, da repotenciação de usinas à redução do desperdício na indústria -- tudo integrado à racionalização da logística, como o transporte sobre trilhos, por dutos e hidrovias.

Ninguém questiona a importância do pré-sal ou a necessidade de expandir o mercado do gás. Mas não há porquê a energia velha ter tal proeminência na agenda. As políticas setoriais não são excludentes. Ainda mais no Brasil, onde as fontes limpas estão ao alcance da mão. Como dizem os ambientalistas: energia velha, mentalidade velha.

José Aníbal é economista e secretário de Energia de São Paulo.

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