2 de mar. de 2015

Produção de energia via biomassa pode crescer até 15% em 2015

A crise de energia e o risco de racionamento no Brasil abrem espaço para que o setor sucroenergético expanda neste ano o segmento de cogeração, aquele em que a biomassa é usada para produzir eletricidade. Especialistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, dizem que a cadeia produtiva de açúcar e álcool tem potencial para aumentar a oferta de energia entre 10% e 15% em 2015 sobre os 20,8 mil GWh gerados em 2014, quantidade já 21% maior que em 2013. Isso com base na capacidade atualmente instalada e desde que usando não só o bagaço da cana, mas também materiais de terceiros, como cavaco de madeira. Avalia-se que a participação no consumo nacional, hoje em torno de 4%, só não é maior porque ainda faltam infraestrutura eficiente e aspectos regulatórios que permitam o pleno desenvolvimento da cogeração nas usinas.

De acordo com o gerente em bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Zilmar Souza, para desenvolver todo o seu potencial, as unidades produtoras precisariam inicialmente investir no chamado retrofit, ou seja, na reforma e atualização do parque industrial para comportar os equipamentos necessários à cogeração. "A fonte biomassa poderia ter gerado 6 vezes mais energia em relação à ofertada à rede em 2014, que é o seu potencial teórico. Isso significaria ter direcionado para o setor um investimento da ordem de R$ 85 bilhões", calculou Souza. De acordo com ele, contudo, esse é apenas um valor-limite, "hipotético", até porque o segmento passa por dificuldades financeiras e precisaria de no mínimo dois anos para a conclusão das obras, enquanto a demanda porenergia é mais imediata. Paralelamente, caberia ao governo honrar o plano de investir R$ 6 bilhões em linhas de transmissão nos próximos anos.

Thais Prandini, diretora da Thymos Energia pondera que a energia de cogeração "é importante para a matriz, mas, sozinha, não consegue sustentar um país". "Todo país depende de diversificação, porque há sazonalidade", explicou, referindo-se a períodos de seca, que impactam as hidrelétricas, e também às entressafras de cana, cujo bagaço e a palha representam 80% de toda a biomassa usada para produzir energia. Aliás, cada tonelada de cana gera de 250 kg a 270 kg de bagaço e mais 200 kg de palha para cogeração.

Embora não garanta o abastecimento interno, a eletricidade advinda de usinas tem o atrativo de poder ser produzida mais rápido. "Isso, principalmente, porque não tem de se discutir todo o impacto ambiental, como ocorre com hidrelétricas", disse a sócia da B2L Investimentos S.A e especialista em bioenergia, Danielle Limiro. "Para 2015, o cenário está promissor."

Em entrevista recente ao Broadcast, o diretor da Divisão de Cana da Tereos Internacional, Jacyr Costa Filho, afirmou que a Guarani deverá aumentar a cogeração em 20% na safra 2015/16, que se inicia em abril. Juliano Prado, diretor executivo de bioenergia e administrativo da Raízen, comentou que a empresa tem capacidade de geração adicional de energia e que o setor como um todo tem "potencial grande" para contribuir com o fornecimento de eletricidade em 2015. No ano passado, a Raízen produziu 2,1 milhões de MWh.

Já o Grupo São Martinho, que gerou 720 mil MWh em 2014, ainda não fechou o guidance para a temporada, de acordo com o diretor de Relações com Investidores da empresa, Felipe Vicchiato. Ele comentou que em torno de 30% da energia gerada pela São Martinho é comercializada no curto prazo.

José Roberto Gomes
Fonte: O Estado de S. Paulo/UDOP

* Se considerarmos todas as usinas de processamento de cana-de-açúcar, teremos a possibilidade de disponibilizar potências de até 5 GW. É importante enfatizar que esta potência é obtida mantendo a cogeração, isto é, o vapor de escape da turbina continua a atender às necessidades de aquecimento da usina.
Chegamos a esse valor considerando a moagem total da cana em 2014, cerca de 640 milhões de toneladas, com teor de fibra de 25% e os equipamentos utilizados nas décadas de 70 e 80 para geração de energia. Com este mesmo bagaço foi feito o cálculo para os equipamentos atuais, de maior eficiência. Considerando que a energia produzida com a tecnologia antiga era o suficiente para atender a própria usina, a diferença entre elas é o excedente que pode ser comercializado e se refere à potência mencionada acima, 5 GW. (Márcia Osaki)

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